quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quando acabar o maluco sou eu


Como de costume depois do expediente em Land Zeppelin rolava o happy hour no Anjos do Balcão, estavamos lá, conversando e falando mal da vida, sempre acompanhados dos copos de cerveja, alguns na sinuca, outros no jornal, mas a maioria por ali jogando conversa fora e comendo amendoim... claro, depois de um dia tão estressante, mal sabem vocês que a vida é dura em Land Zeppelin.

Quarta-feira, dia de futebol, o happy hour se prolonga até o jogo, e o bar vai lotando, até parece que é sábado. Até o Seu Raul aparece por lá, ele que nunca sai do sitio, resolveu ir tomar umas cervejas com os amigos. Jorge Arilson chegou também, e a roda foi crescendo, cerveja vai e cerveja vem, os copos iam esvaziando cada vez mais rapido e as mesmas histórias cada vez mais engraçadas.

Seu Raul, o velho sentado na porta do bar, era o centro da conversa, todos prestavam atenção nos seus contos mirabolantes, coisas da cabeça de um Raul, só podiam mesmo. A maioria delas divertidas demais, as histórias e o fumo nunca acabavam, e ninguém lembrou-se da porra do jogo, as histórias estavam demais, uma maluquisse.

Já bem tarde da noite, depois de muita embriaguez e vários tipos de pirações diferentes, eis que avistamos um cara subindo a rua do Anjos, chapéuzinho quadrado e violão nas costas, o cara só nos olhou e falou:
-Eu vim da highway 61, e as histórias são boas.

Nós queriamos continuar ouvindo as histórias do Seu Raul. Mas ocorreu um minuto de silencio repentino após as nossas fichas caírem... "Highway 61??? as histórias devem ser boas".

Voltamos a atenção a roda de pessoas e Seu Raul e o tal cara que niguém conhecia estavam se olhando como se se conhecessem há vários anos, velhos amigos. O cara tirou aquele chapéuzinho quadrado, vestiu os óculos escuros, olhou para o Seu Raul e falou:
-Continue suas maluquisses, também quero ouvir.

E as histórias continuaram, o conto sobre uma mosca na sopa e um tal carimbador maluco, não sei da onde ele tirava essas histórias, talvez fosse culpa da droga e da bebida. Mas a criatividade realmente era fantastica, e o cara lá, vivendo naquele sitio muito louco.

Lá pelas tantas, Seu Raul direciona a pergunta ao maluco da highway 61:
-Mas como você se chama, meu amigo Pedro?
-Pode me chamar de judeu.

Caímos na gargalhada né, todos. Como poderia judeu ser o apelido de alguém. Mas enfim, o cara não se abateu e manteve o ar de mente brilhante. Enquanto riamos, ele recolocou seu chapéu, pegou o violão e começou a cantar uma história.

O cara era realmente doido... ficava nos perguntando em suas canções qual era a sensação de ser uma pedra rolante. O Micka e o Keit Ricardo que gostaram.

De repente, o doido simplesmente virou as costas e saiu cantando e tocando aquele violão velho, as ultimas palavras que dava pra ouvir eram "Eu vou morar por aí". Tomara, pois o cara até que era divertido. Tomara que volte sempre.

Quando aquela sombra tocando e andando sumiu rua abaixo, Seu Raul logo falou:
-"E depois o maluco sou eu..."


Trilha Sonora: Bob Dylan - Highway 61 Revisited

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